terça-feira, 29 de novembro de 2011

Em um conflito assimétrico, um resgate desproporcional

(A Karlinha pediu para eu postar porque ela ainda nao conseguiu)



Israel comemora hoje o retorno de Gilad Shalit - soldado sequestrado em 2006 por terroristas do Hamas.

Num país como este – tão marcado pela divergência de idéias – é difícil encontrar uma quase unanimidade.

Quando o sequestro foi anunciado, os pais de Gilad - Aviva e Noam Shalit - choraram sozinhos. Quando a notícia de que o acordo havia sido confirmado, e após tantos anos em cativeiro, era possivel perceber em todo o país uma verdadeira euforia e felicidade. De norte ao sul, Gilad havia se tornado o filho de todos nós.

O preço do resgate pago pelo governo israelense é extremamente alto. 1027 (mil e vinte e sete) palestinos, presos em cadeias israelenses serão trocados pela vida de 1 (um) soldado israelense. É necessário ressaltar, que grande parte dos presos foram condenados pelo seu envolvimento em ataques terroristas que assassinaram centenas de israelenses.

Algumas questões devem ser respondidas. Por que este número? O que levou o governo israelense a concordar com uma negociação tão desigual? Uma vida israelense vale 1027 vezes mais do que uma vida palestina?

Arrisco uma resposta.

Israel vive um conflito assimétrico em que os lados não são equiparáveis. Esta afirmação não é uma questão de ponto de vista.

O governo israelense é democraticamente eleito em eleições livres. O Hamas foi um governo democraticamente eleito que matou a oposição e instituiu uma ditadura islâmica.

Israel defende os valores modernos de liberdades individuais asseguradas por um estado de direito. O Hamas deseja o retorno dos valores medievais de negação do indivíduo, construído sobre os pilares da lei religiosa islãmica.

Em Israel, há palestinos que enfrentam algum preconceito por fazer parte de uma minoria. Há tambem palestinos que trabalham e que empregam. Palestinos que votam e são votados. Palestinos que possuem acesso a educação básica e universitária. Que têm o direito de fazer a sua voz ser ouvida através dos livres meios de comunicação. No território governado pelo Hamas, judeu não sobrevive.

O Exército de Israel é percebido como o vilão das histórias em quadrinhos transformado no cruel assassino de crianças. O terrorista que se explode em supermercados lotados é rapidamente convertido em "militante", "revolucionário", "reparador de injustiças".

As vítimas palestinas de ações militares israelenses são munição para a gritaria anti-sionista. As vítimas israelenses são homenageadas com o silêncio cúmplice do terror e são enterradas longe das manchetes dos jornais do mundo.

Dois estados para dois povos é a solução desejada pela maior parte da sociedade israelense. Um estado sem o meu povo é a base da plataforma ideológica do Hamas.

Neste conflito assimétrico, Israel é o lado que defende a democracia, os valores modernos, as liberdades individuais, o direito das minorias.

Neste conflito assimétrico, Israel é o lado que já declarou expressamente o desejo de conviver com as diferenças, além de oficialmente reconhecer o direito palestino a uma parte do território.

Israel, obviamente possui extremistas que danificam o processo de paz. Mas, neste conflito assimétrico, quando algum fanático judeu comete um crime, ele é publicamente execrado pela maioria da população israelense.Do lado palestino, pouquíssimas são as vozes a condenar a morte de civís. Geralmente o criminoso é considerado herói nacional.

Neste conflito assimétrico, a causa palestina é sequestrada pelo terrorismo islãmico que já declarou expressamente o desejo de “varrer Israel do mapa”. O Terror - verdadeiro agente de subjugação do povo palestino - é percebido pelo mundo como a expressão da “liberdade”.

Neste conflito, quando se noticia sobre Israel, nada surpreende. A notícia caminha junto a demonização, e o maniqueísmo ingênuo ocorre na maioria dos comentários. Nenhuma razão lhe caberia, apesar de sofrer sessenta anos de perseguição bélica em forma de guerra direta ou de terrorismo.

Neste percurso, Israel tem censurado o seu direito de defesa, apesar de seus inimigos terem como objetivo único – e declarado - a destruição do país.

E portanto, em mais um capítulo deste eterno conflito, hoje temos o acordo que libertou o soldado israelense sequestrado. Israel reafirma a sua disposição a tomar durar e difíceis decisões quando o que esta em xeque é a vida de seus cidadãos. Mais uma vez, o povo judeu comprova o sentimento de responsabilidade mútua entre seus habitantes.

Por fim, num conflito que sempre foi assimétrico, o preço do resgate não poderia ser diferente. É tão desproporcional quanto o valor dado por cada lado à vida e à dignidade.

Israel, cujas ações de defesa já foram tantas vezes acusadas injustamente de serem desproporcionais, aceita desta vez a acusação de ser desproporcionalmente humano.

Marcelo Treistman